João Paulo Guerra
E se um desconhecido, de repente, lhe disser que a crise é um sonho para fazer dinheiro, apenas uma oportunidade para ganhar muito dinheiro?
Foi o que aconteceu a milhões de telespectadores da BBC, há precisamente uma semana, quando lhes entrou pela casa dentro um tal Alessio Rastani, 34 anos, alegado "investidor independente", avisando-as que se preparem pois podem ganhar muito dinheiro. E quem pode ganhar esse dinheiro?
Qualquer um pode ganhar esse dinheiro, não apenas as pessoas da elite. Como? Agindo. De que maneira? Protegendo os seus activos e investindo. E de onde vem todo esse dinheiro, muito dinheiro? De milhões de pessoas que verão desaparecer as suas economias. Quando? Quando o mercado quebrar, quando o euro e as bolsas caírem. Mas então, e as medidas dos governos para ultrapassar a crise? Os governos não mandam no mundo, a Goldman Sachs é que manda. E a Goldman Sachs não quer saber dos planos de resgate.
Alessio Rastani não precisou de 15 minutos de fama. Bastaram-lhe três minutos na BBC para ser citado nos ‘mass media' de todo o mundo. E, no entanto, Rastani não é nada, nem ninguém, nos mundos da finança ou da comunicação. Foi apenas pouco mais que um anónimo com acesso a um vastíssimo auditório, e com quem os telespectadores anónimos se identificaram, a anunciar algo sobre o que muita gente tem vagas suspeitas: que a crise é mais que dívidas soberanas e resgates, acima de tudo é o sonho de alguns concentrarem nas mãos as economias de milhões de pessoas espoliadas. O liberal - do seu tempo - Almeida Garrett já abordara a questão, a meio do século XIX, interrogando-se sobre quantos pobres seriam necessários para fazer um rico.
O editor de economia da BBC comentou que Rastani ajudou a compreender como funcionam os mercados.
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