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15/04/2010

Contra «aumentos zero»: Protesto nos seguros

Com lucros de quase 250 milhões de euros, as companhias de seguros romperam as negociações com os sindicatos e recusam actualizar as tabelas salariais em 2010.

À posição da Associação Portuguesa de Seguradores, os sindicatos responderam com apelos a que os trabalhadores expressem o seu descontentamento. Nas companhias, o Sindicato Nacional dos Profissionais de Seguros e Afins (Sinapsa, que decidiu, em Novembro de 2008, sair da UGT) lançou um abaixo-assinado e, apenas na primeira semana, somou mais de 500 subscritores. O mesmo documento, transformado em «petição» na Internet, tem já mais de 300 apoiantes. Será entregue à associação patronal na primeira reunião da fase de conciliação, que vai ser requerida ao Ministério do Trabalho.
Mas o Sinapsa, que também já promoveu a afixação de faixas junto a edifícios de algumas seguradoras, defende que «a resposta tem de ser ainda mais forte» e «cada trabalhador tem de ser também um mobilizador de vontades». No mais recente comunicado da direcção, o sindicato nota que «temos tido negociações difíceis», em anos anteriores, «mas nunca o descaro foi tão longe, ao ponto de o presidente da APS, falidos os argumentos económicos, assumir que a sua posição é política».
Admitindo que o sector vive «dificuldades» que são «consequência de uma crise originada pela especulação financeira», o Sinapsa lembra que «os grupos financeiros, com quem as seguradoras cada vez mais interagem, apresentaram em 2009 lucros que somam mais de quatro milhões de euros por dia», enquanto «os resultados das seguradoras apontam para lucros na ordem dos 240 milhões», «apesar da crise».
Os trabalhadores não aceitam a redução de salários e recusam igualmente que no sector «se generalizem os contratos precários e ilegais, se intensifiquem as cargas de trabalho e as horas extraordinárias não remuneradas, os processos de avaliação de desempenho viciados, o corte nas regalias sociais, a redução dos quadros de pessoal, a violação diária do contrato colectivo».
No final de Março, reuniram em Leiria as direcções daquele sindicato, do STAS e do Sisep (ambos filiados na UGT), que definiram «algumas estratégias a prosseguir, para que os trabalhadores de seguros não continuem a ser feridos na sua dignidade» - como referem num comunicado conjunto. Deixando a divulgação das acções em concreto para «momento oportuno», os sindicatos apelam a que os trabalhadores se mantenham atentos e prontos a participar nas iniciativas.

Prémios discricionários

As empresas seguradoras recusam actualizar a tabela salarial, mas a argumentação das dificuldades financeiras e da crise é contrariada pela distribuição de prémios de desempenho e bónus.
Na reunião do seu Conselho Geral, a 30 de Março, no Porto, o Sinapsa retomou a crítica desta «distribuição discricionária», que já estava expressa no abaixo-assinado de protesto. Os patrões pretendem assim dividir os trabalhadores e «desmobilizá-los da defesa de uma tabela salarial condigna, que é a base em que deve assentar a remuneração do trabalho», acusa o sindicato, numa moção publicada, como anúncio, em dois jornais nacionais. No protesto-petição defende-se que «é na tabela salarial que a actualização justa e equilibrada deve ser feita, abrangendo todos e não apenas alguns», porque «todas as demais remunerações são aleatórias».

Tribuna de bancários

Hoje, às 15 horas, junto à sede da Associação Portuguesa de Bancos (Av. da República, 35, em Lisboa), o Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira promove uma «tribuna pública», para exigir o aumento real dos salários no sector.
A APB recusou iniciar as negociações com o Sintaf/CGTP-IN, que remeteu à associação patronal uma proposta de actualização da tabela salarial para 2010. O sindicato defende que o crescimento dos salários dos trabalhadores «é fundamental para as suas próprias famílias poderem fazer frente às dificuldades económicas e financeiras» e «como factor de dinamização do mercado interno».
«É necessário protestar contra a postura retrógrada dos banqueiros, assente na tese da moderação salarial, quando se verificou um crescimento dos lucros que, com tem acontecido em anos anteriores, acentuará ainda mais a desigualdade salarial e as injustiças na banca», clama o Sintaf, na nota em que divulgou aos jornalistas o protesto de hoje.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33273&area=4

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