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22/04/2010

Islandeses querem saber a «verdade»: País saqueado

Os factos que levaram à falência da Islândia, apurados pela comissão parlamentar de inquérito, sugerem um plano organizado pelo governo com o grande capital para levar a cabo o maior saque de que há memória no país.

O relatório parlamentar sobre as causas do descalabro do sistema bancário islandês, publicado no dia 12, está a ter uma invulgar divulgação, que traduz o grande interesse demonstrado da população em conhecer a «verdade».
Já entregue à procuradoria para eventual investigação judicial, o documento de 2300 páginas, que acusa os políticos de topo de «negligência extrema», será lido na íntegra, dia e noite, pelos actores do Teatro de Reykjavik. Também o bispo da Islândia apelou a que o chamado «relatório verdade» seja comentado em todas as paróquias, embora as práticas que agora todos estigmatizam sejam tão velhas como o capitalismo e, pelo menos desde que este entrou na sua fase monopolista de Estado, todos os excessos são possíveis.
Por outras palavras, segundo o relatório constata, o processo que levou à bancarrota do país começou em 2003 com a privatização dos três pequenos bancos islandeses. Em apenas sete anos estas instituições multiplicaram por 20 o volume de negócios e a respectiva dívida a curto prazo elevou-se a um montante 15 vezes superior às reservas do banco central.
Num contexto de euforia, concederam empréstimos no valor 11 vezes superior ao produto interno bruto da pequena ilha, com a particularidade de que parte destes créditos terem sido contraídos pelos seus próprios proprietários dos bancos, que tinham negócios noutros ramos.
Para atrair fundos, estas instituições oferecem taxas de juro de sete por cento, ou seja três pontos acima da concorrência. Muitos britânicos e holandeses caíram na esparrela. Tanta fartura começou a levantar naturais suspeitas no mercado e os banqueiros da terra do gelo depararam-se com dificuldades na renovação dos seus créditos.
Já à beira da insolvência, afirma-se no relatório, os proprietários arrebanharam os fundos que restavam e dissimularam-nos em contas particulares no estrangeiro. Um deles é hoje o homem mais rico do país com uma fortuna estimada em um terço do orçamento do Estado.
Depois da festa, coube ao governo varrer a sala e pagar a despesa, condenando o povo à pobreza. A recessão económica chegou aos 8,5 por cento do PIB em 2009, a coroa islandesa perdeu metade do seu valor face ao euro, os salários foram congelados enquanto a inflação disparou.
Naquele que antes da crise era o país com o índice mais elevado de «desenvolvimento humano», o nível de vida caiu para metade, e o desemprego, antes inexistente entre os 320 mil habitantes, já atinge 7,1 por cento da população activa.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33296&area=8

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