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19/05/2010

Costa da Caparica: Novos pobres duplicaram desde o início do ano

O Centro Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, na Costa da Caparica, está a receber o dobro dos pedidos de ajuda alimentar e económica desde o início do ano.

Em declarações à agência Lusa, o diretor do centro paroquial de Nossa Senhora da Conceição, que apoia mil famílias numa cidade com 15 mil habitantes, António Luís Pires, afirmou que "a pobreza é explosiva na Costa da Caparica".

"Vivemos um momento sem precedentes. Estamos a assistir a um retrocesso que vai fazer com que a classe média baixa vá ter filhos na pobreza. Há uma regressão absoluta na normal manutenção ou transição de classe económica de uma geração para a outra", disse.

O centro paroquial, disse, acompanha várias famílias "que, em tempo de vida útil, mesmo que isto melhorasse amanhã, já não tinham tempo para ultrapassar a situação de pobreza em que caíram".

O centro registou na última semana 20 novos pedidos de ajuda e na segunda feira recebeu mais 20. A média, que o responsável diz estar em tendência crescente, ultrapassa os 16 pedidos de ajuda por semana.

"O mais assustador é que falamos de situações de pobreza extrema em famílias que há um, dois anos, tinham uma condição económica razoável. Sobretudo devido ao desemprego, as pessoas chegam aqui em situações limite, perto de perderem a casa e com o frigorífico vazio", afirmou.

Durante 2009 o centro distribuiu 40 toneladas de alimentos a famílias carenciadas e este ano já distribuiu 25. A ajuda é procurada por dois grandes grupos: pensionistas, que constituem cerca de 30 por cento das solicitações, e famílias em idade ativa, 70 por cento.

O padre António Luís Pires defendeu que é obrigação do Estado e do Governo tirar do mercado algumas respostas que as empresas apresentam às famílias com problemas financeiros.

"Temos famílias completamente insolúveis, carregadas de dívidas pelas quais pagam juros de mais de 20 por cento, e as que contraíram para sobreviver. Os cartões de crédito oferecidos pelos supermercados são absolutamente imorais", afirmou.

E vê o cenário a piorar: "Esperamos ainda para perceber o impacto real das medidas de austeridade para reduzir o défice nestas pessoas. Creio que vamos ter, daqui por uns tempos, uma coisa que achávamos que era salazarenta, a sopa dos pobres".

Para conseguir responder ao aumento de pedidos de ajuda alimentar, o centro lançou uma campanha excecional de recolha de alimentos e garante que, embora não possa pagar as dívidas às famílias, vai garantir-lhes alimentação.

http://www.destak.pt/artigo/64150

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