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20/10/2011

Sempre mais!

Maurício Miguel 

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O momento que vivemos é de enorme complexidade e violência contra os trabalhadores e os povos. Emerso nas suas próprias contradições e limites, o capitalismo age como um elefante numa loja de porcelanas.
Seiscentos biliões (milhões de milhões) de dólares em «derivados financeiros», tal é o valor que causa receios à banca americana e que justifica toda a pressão que os EUA e o FMI estão a fazer para que, no Conselho Europeu de 23 de Outubro, a UE encontre uma solução rápida para a dívida grega e a chamada recapitalização dos bancos. É que 81,13 por cento dos 750 biliões de dólares que constituem a dívida dos EUA provêm dos «derivados financeiros». O risco de um «incumprimento» da Grécia, de Portugal e da Irlanda pode ter efeitos imediatos na banca alemã e francesa e por arrastamento nos maiores bancos americanos e em todo o sistema financeiro mundial. Quatro bancos americanos (JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of América e Goldman Sachs) concentram 95,9 por cento dos «derivados financeiros». Este valor astronómico equivale a dez vezes o total do PIB mundial ou a mais de 40 vezes o PIB dos EUA (Cubadebate/Blog Salmón).
EUA, Alemanha e França revelam desacordos sobre como proceder em relação à ameaça que pende sobre o sector financeiro e sobre toda a economia. A França quer que seja o «fundo de socorro» do euro a proceder à recapitalização dos bancos. A Alemanha, por seu lado, quer que seja «cada país a ocupar-se» dos seus bancos. Os americanos exigem acções rápidas. O denominador comum reside na vontade de exercer pressão crescente sobre países como Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha e Itália, visando a destruição das suas soberanias e o aprofundamento das medidas de agressão aos seus povos. A reestruturação da dívida grega ganha forma. O que até há pouco tempo era impossível, torna-se agora, com o risco de fazer ruir todo o sistema, muito provável. Nem a reestruturação da dívida grega, nem a capitalização dos bancos (deter reservas mínimas de capital) são consensuais entre os banqueiros. O presidente do maior banco alemão Deutsche Bank manifestou-se contra tais medidas, já que isso significaria tocar na «galinha dos ovos de ouro» e nos lucros fabulosos que a desregulação financeira permitiu aos bancos.
Estamos perante tentativas mútuas de enfraquecer o adversário, com a administração americana, a UE e o FMI a servirem de intermediários dos interesses contraditórios dos bancos e de todos os que dominam o sistema financeiro mundial. Um eventual desastre poderá gerar uma depressão em larga escala que afectará o mundo inteiro. O grande capital conspira e procura posicionar-se perante a iminência da derrocada, porque o capital ou acumula ou morre! Estamos perante um processo de concentração e centralização do capital e, em consequência, do poder político a uma escala sem precedentes. O capital financeiro posiciona-se e posiciona funcionários e ex-funcionários em posições políticas estratégicas para que as decisões tomadas vão ao encontro das suas necessidades: o lucro. Perante o grau de incerteza e a velocidade com que circula o capital, ter homens de mão nos locais certos, ajuda, sejam eles da direita ou da social-democracia. E vangloriam-se disso: «Orgulhamo-nos de muitos continuarem activamente ligados» (Diário Económico citando o site do banco Goldman Sachs). Entre eles está o futuro presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, que foi director do Goldman International desde 2002 a 2005. São estes os homens que ajudaram a criar a bolha especulativa dos 600 biliões de dólares que mantém toda a economia mundial suspensa. São eles as sanguessugas da actividade produtiva. São eles os que se propõem criar as condições para aumentar os fabulosos lucros do sector financeiro. São os mesmos que defendem a revisão do tratado da UE, para concentrar ainda mais o poder nas mãos das grandes potências e consolidar a hegemonia da Alemanha, reforçando o carácter punitivo contra os países «prevaricadores». São os mesmos que ajudaram a criar uma dívida que agora querem ampliar, e não reduzir, como procuram fazer crer, para continuar a promover a especulação e a acumulação de fortunas fabulosas – suas ou de outros. São os mesmos que parecem querer arrancar as entranhas aos trabalhadores e aos povos, esvaziar ainda mais as empobrecidas soberanias nacionais e as liberdades políticas e democráticas para impor a concertação e o domínio de classe de quem já muito tem mas quer sempre mais.

http://www.avante.pt/pt/1977/europa/116712/

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