À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

03/11/2011

O pin

Margarida Botelho 

De há algumas semanas para cá vários membros do Governo ostentam na lapela um pin com a bandeira de Portugal. O primeiro-ministro não o larga, Miguel Relvas apresentou-se com um na entrevista à TVI e parece que a moda até já se estendeu ao apresentador Jorge Gabriel. O banco Millenium, sempre bem sintonizado, oferece “fitas do orgulho” de ser português para usar no pulso.
Não deixa de ser sintomático. Numa altura em que PSD, CDS e PS se acotovelam para levar mais longe a submissão ao pacto de agressão, em que se preparam para vender a quem der menos empresas e sectores estratégicos nacionais (até ao subsolo!), para roubar o povo para entregar aos grandes grupos económicos, para ir destruindo o Serviço Nacional de Saúde, para reduzir a escola pública ao ler e contar do fascismo, lá vão eles, de bandeirinha ao peito, a tentar enganar os incautos.
Porque esta gente não faz nada por acaso, de certeza que alguma agência de comunicação explicou ao Governo que o povo português tem orgulho no seu país e gosta pouco de se ver no papel em que o querem pôr: de mão estendida às grandes potências da União Europeia, de orelhas baixas aos ralhetes dos grandes banqueiros, bom aluno de tudo o que é mais atrasado na humanidade. E portanto fizeram a única coisa que lhes resta fazer: pôr o pin na lapela, à maneira de emblema de clube, e esperar que o povo os tome por patriotas.
Mas patriotas são os milhões de portugueses que não aceitam o rumo que nos querem impor. Patriotas são os trabalhadores que participaram nas centenas de acções da semana de luta de CGTP. São os utentes e profissionais de Saúde que não admitem a destruição dessa conquista que é o Serviço Nacional de Saúde e denunciam cada encerramento, cada corte, cada enfermeiro e cada médico em falta. Patriotas são os estudantes, os professores, os profissionais de educação, que defendem a escola pública, gratuita e de qualidade. Patriotas são os profissionais de segurança, os militares, os agricultores, os micro, pequenos e médios empresários que juntam a sua voz à corrente de contestação contra o Pacto de Submissão. Patriotas são os que lutam por um Portugal com futuro.

http://www.avante.pt/pt/1979/opiniao/117001/

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