À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

02/11/2011

Apeados

João Paulo Guerra

O Governo que, como se sabe, se locomove a bordo de reluzentes e potentes frotas de veículos, enquanto revê e não revê - se é que vai rever algum dia - os modelos do respectivo parque automóvel, teve entretanto a ideia de encerrar o Metro de Lisboa, e já agora a Carris, a partir das 23 horas.
Só mesmo a um ‘cluster' de burocratas completamente desligados da vida real pode passar pelas cabeças tal ideia. Haverá seguramente um numeroso grupo de pessoas que trabalham, estudam ou por outros motivos se deslocam tarde, na cidade de Lisboa, que ficam sem qualquer alternativa de transporte se lhes cortarem o Metro, a Carris ou, como parece ser a fantasia do Governo, o Metro mais a Carris.
A ideia assenta num conceito de relação entre governantes e governados que levou a realeza de França a perder a cabeça: "Não têm pão? Comam brioches", sentenciava Maria Antonieta, a ‘Madame Deficit', no recato luxuoso e ricamente abastecido do ‘Petit Trianon'. No caso presente, quem não tenha Metro e Carris, pois que vá de limusina. É a arrogância e o desprezo de um painel de arrivistas para quem o povo dos transportes públicos é uma entidade que se confunde com cifras, se designa por percentagens, que cheira a suor e que se esgota assim que paga impostos e quando engole as patranhas das campanhas eleitorais.
Mas a tenebrosa ideia revela também que o Governo não descansa um segundo na tarefa excessiva e contínua que se atribuiu de fazer a vida negra à maioria dos portugueses. E esses são os assalariados que vivem de salários cortados e congelados, com encargos desmesurados e cargas fiscais tirânicas e se deslocam em transportes públicos que aumentam de preços de forma irrazoável e praticam horários determinados pelos critérios da burocracia.

http://economico.sapo.pt/noticias/apeados_130297.html

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