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17/11/2011

Grécia - Da farsa à tragédia

Se os memorandos II (2011-2015) e III (2010-2020) forem aplicados, «a Grécia será, em 2020, uma economia virtual e com trabalho sem protecção». A conclusão consta no relatório «Economia do Trabalho e do Emprego/ Relatório Anual 2011», elaborado pelo Instituto do Trabalho (INE), pertencente às duas maiores confederações sindicais da Grécia, a GSEE, (sector privado) e a ADEDY (sector público), ambas ligadas ao PASOK.
Numa entrevista divulgada pela Agência Lusa (13.11), o director científico do Instituto, Savas Robolis, recorda que, «após os dois primeiros memorandos, foram aprovados pelo anterior governo do PASOK vários projectos-lei contra a negociação colectiva no sector privado, onde os salários já sofreram uma redução de 20 por cento e vão continuar a diminuir».
O investigador observa ainda que «no sector público ainda se mantém a negociação colectiva, mas já foi imposta uma redução salarial até 40 por cento e a supressão de todos os subsídios. Agora, só existem 12 meses de salários».
E, ao contrário do que é propagado por alguns líderes europeus, a situação desesperada da Grécia não resulta de um alegado incumprimento dos compromissos assumidos com a troika, mas, pelo contrário, é consequência directa da aplicação dessas medidas. «Afirmamos que o governo aplicou o programa, mas os objectivos anunciados pela troika para 2011, em termos de relançamento da economia, não foram atingidos».
Nem poderiam ser, considera Robolis, notando que o desemprego estatístico para 2012 será de 21 por cento, mas em termos reais chegará aos 26 por cento ou mesmo aos 28 por cento, caso seja cumprido o memorando da troika que impõe o despedimento de mais 100 mil funcionários públicos.
Quanto à estratégia do memorando III, este economista refere que, até ao momento, as políticas restritivas visaram sobretudo a redução dos salários para cobrir o défice. «Agora, quando a economia está em recessão, a procura das famílias diminuiu e muitas empresas encerraram, a estratégia consiste em diminuir as despesas públicas e sociais». Ora, as despesas públicas actuais na Grécia rondam os 50 mil milhões de euros, mas até ao final da década prevê-se a sua redução para 30 mil milhões. «Caso isso suceda, podemos imaginar a que ponto a situação se vai degradar ao nível da Saúde, da Educação, da Segurança Social, do índice de desenvolvimento económico e social do país».
Deste modo, se os dois últimos anos se podem definir «entre a comédia e a farsa», os próximos podem converter-se numa «tragédia».

http://www.avante.pt/pt/1981/europa/117297/

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