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01/05/2010

Famílias são obrigadas a aprender a viver só com "o básico"

Os "dias felizes" na Rohde já só fazem parte da memória. O presente naquela que é ainda a maior empregadora nacional do sector do calçado conjuga-se com o verbo desemprego para os seus quase 900 operários. Foi na fábrica de Santa Maria da Feira que Manuel Augusto, 40 anos, e Idalina, 36, se conheceram. O namoro acabou em casamento e a felicidade, gerada pelo amor do casal e assegurada pela "segurança" dos empregos, durou 16 anos, até Agosto de 2009. A administração da fábrica suspendeu a laboração e depois os contratos por falta de viabilidade económica, sendo o encerramento o cenário mais provável.

"A vida deu uma volta completa", assume Manuel Augusto, recordando que o casal recebeu o desemprego "em choque" e "demorou tempo a dar sentido à vida". Se as remunerações salariais, cerca de mil euros, "já não davam para aventuras", o que receberam de ajuda da Segurança Social durante a suspensão de contratos "obrigou a apertar mais o cinto". "O que dói mais", disse ao DN, é não poder dar à filha, de nove anos, "os mimos" de algumas compras que as crianças desta idade "tanto gostam". "Vivemos para o básico", acrescenta Idalina. Um exemplo: "Na alimentação não podemos comer sempre do melhor, procura-se mais barato."

Situação semelhante vivem Isménia e Carlos, em Viana do Castelo. Ambos "trintões" e desempregados, garantem que encaram de frente a falta de trabalho, mas admitem que só com ajuda dos pais dela conseguem viver "mais ou menos". "Todos os dias vamos lá fazer as refeições. Claro que também é para conviver com a família, mas, se não fosse isso, não sei o que seria…", desabafa Isménia Laranjeira, 32 anos. "Duzentos euros. É quanto recebo do Estado, com uma filha para criar", reclama.

Na região de Setúbal, onde a taxa de desemprego é uma das mais elevadas do País, os casos complicados sucedem-se. Carlos Matos é um destes casos. Ao longo dos 52 anos que já leva a sua vida, fez de tudo: guardou gado, deu serventia, fez bolos, foi vendedor ambulante e até chegou a ter um pequeno negócio com a venda de caracóis. Tinha 43 anos quando arranjou o que pensava ser um emprego estável, atrás de um balcão de uma loja de roupa na Baixa de Setúbal.

No entanto, e levada pela crise, a loja encerrou e atirou Carlos para uma vida de angústia. Novo para a reforma e já com idade avançada para arranjar uma nova saída, recebeu a notícia do desemprego como "um tormento", sobretudo porque a mulher não trabalhava e os dois filhos ainda estavam em casa. O cenário mantém-se quase dois anos depois. Lá em casa, a família "teve de se habituar" a viver com o subsídio de 500 euros ainda auferindo por Carlos Matos, embora um dos filhos já se tenha casado e seguido a sua vida.

Também em Setúbal vive Samuel Teixeira. Actualmente a viver da solidariedade dos automobilistas que passam pelo supermercado próximo da Avenida Bento Gonçalves, onde diariamente arruma carros, Samuel é uma sombra do empresário que um dia foi. Mas isso já foi há oito anos, antes de o negócio encerrar.

Hoje não tem qualquer rendimento e vive à espera de um apoio da Segurança Social. Ao DN, assegurou que está inscrito no rendimento social de inserção há três anos, mas nunca recebeu resposta. "Vou lá falar com eles, sabem que eu não tenho nada, mas nem assim", lamenta em conversa com o DN.

http://dn.sapo.pt/bolsa/emprego/interior.aspx?content_id=1558236

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