O procurador-geral de Palermo, Antonino Gatto, pediu, dia 16, ao Tribunal de Recurso a condenação a 11 anos de prisão de Marcello Dell'Utri, senador do partido Povo e Liberdade, um dos braços direitos do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, e co-fundador da Forza Itália.
Dell'Utri já tinha sido condenado em primeira instância a nove anos de prisão pelo crime de associação mafiosa. Porém, o procurador fundamenta o seu recurso notando que o arguido «esteve ao serviço da organização mafiosa durante mais de 30 anos» e «desempenhou um papel determinante na aprovação de iniciativas legislativas que favoreceram a mafia».
Na presença de Dell'Utri, Antonino Gatto recordou ainda que o senador siciliano tentou contaminar as provas pagando a um falso arrependido mafioso, Cosimo Cirfeta, através de um agente dos serviços secretos, Renato Farina, que hoje trabalha como jornalista no Il Giornale, diário que pertence à família Berlusconi.
Ainda antes de o procurador terminar a sua exposição, Dell'Utri abandonou a sala do Tribunal de Palermo e declarou aos jornalistas: «Se me deixarem em paz, se me absolverem, estou disposto a desistir de todos os cargos políticos. Hoje sou senador para me defender do processo. Estão surpreendidos? Entrei na política para me defender».
Provando que em Itália o incrível se transformou em trivialidade, Silvio Berlusconi veio a público, no mesmo dia, afirmar, com ares de entendido, que «a mafia italiana é a sexta do mundo, mas casualmente tornou-se a mais conhecida porque houve um apoio promocional que se converteu num elemento muito negativo de avaliação do nosso país. Recordemos as oito séries de O Polvo programadas nas televisões de 160 países do mundo e toda a literatura a propósito».
Esta declaração implausível mereceu do eurodeputado, Luigi de Magistris, da Itália dos Valores, um comentário à altura: «No Conselho de Ministros andam com toda a evidência a tomar substâncias estupefacientes, de outra forma não se compreendem as palavras do primeiro-ministro, tão audazes como mistificadoras.»
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33298&area=8
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
22/04/2010
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