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04/05/2010

Os desempregados que paguem a crise

PEDRO TADEU

Pedro Passos Coelho decretou a si próprio a inevitabilidade de vir a ser primeiro-ministro no dia em que foi ter com José Sócrates para tomarem uma posição comum de "salvação do País".

José Sócrates, por seu lado, confirmou-se a si próprio como mero poder transitório ao, no final dessa encenação política, anunciar aos portugueses que a resposta que tinha, a resposta do seu Partido Socialista para a "ofensiva" dos mercados financeiros, era um corte nos subsídios sociais. Traduzido por miúdos, foi o mesmo que ouvi-lo dizer, em horário nobre: "Os desempregados que paguem a crise!" Como suicídio político, foi do mais confrangedor que já se viu...

Mas o essencial da questão não é isso. O elemento mais relevante desse momento de suposta união nacional foi o conformismo com que quer Coelho quer Sócrates, olham para a situação: para ambos, face ao ataque de que Portugal está a ser alvo pela conjugação simultânea da acção das agências de notação, do paralelismo à situação grega e das contradições europeias, a resposta a dar é o PEC. Apenas e só o malfadado PEC!

E o que significa afinal o PEC, mais ajuste menos ajuste, com melhor ou pior embrulho? Significa, já toda a gente percebeu, que os problemas provocados pelos ricos (alguns deles ricos-vigaristas) vão ser resolvidos pelo sacrifício financeiro de quem nada teve a ver com o assunto.

Do passado, para estes políticos, só conta o resultado a que chegámos: a dívida pública enorme. Não interessa a destruição do tecido produtivo do País em áreas de actividade fulcrais, paga, até, com subsídios da União Europeia. Não interessa o voraz clientelismo político que destruiu a saúde das finanças do Estado. Não interessam os milhões de milhões de euros que entraram nas últimas décadas no País, sem proveito duradouro para a sociedade. Não interessa a inculcação pelo poder de uma cultura despesista, consumista, fútil e antifuturo, que espalhou o cancro do desperdício e da irresponsabilidade a todos os sectores da sociedade.

Não vão ser, portanto, os grandes beneficiários desses tempos - os especuladores financeiros, os empresários desonestos e os parasitas do Estado - que vão pagar pelo mal que nos fizeram.

Sócrates e Coelho, nisso, são iguais. Seja por falta de visão, seja por falta de coragem política, seja por estarem nas mãos de quem realmente provocou esta crise, a melhor solução que têm não é cobrarem a factura a quem, antes, abusou da vida fácil. A melhor solução que têm é uma lista de medidas de ataque aos trabalhadores, o tal PEC. Não é justo.

http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1559972&seccao=Pedro%20Tadeu&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

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