Anabela Fino
Um grupo de nove ex-ministros das Finanças vai ser recebido na segunda-feira, 10, por Cavaco Silva, ao que consta para transmitir ao Presidente da República a preocupação comum pelo «estado a que isto chegou» e a apreensão ainda maior do «estado a que isto pode chegar» se forem para a frente os grandes investimentos públicos que o Governo tem vindo a anunciar.
A iniciativa, segundo rezam as crónicas, é capitaneada por Medina Carreira que, dos vinte ex-ministros das Finanças vivos (entre os quais o próprio Cavaco), conseguiu arregimentar João Salgueiro, ministro de Pinto Balsemão; Ernâni Lopes, ministro de Mário Soares; Eduardo Catroga e Miguel Beleza, ministros de Cavaco; Pina Moura, o 'cardeal' de António Guterres; Manuela Ferreira Leite, a 'dama de ferro' do executivo de Durão Barroso; Bagão Félix, ministro do inenarrável governo de Santana Lopes; e Campos e Cunha, o efémero ministro das Finanças de Sócrates.
A expectativa criada nos órgãos de informação em torno do anunciado encontro é grande, tanto mais que o dito foi apresentado a marinar no movimento de contestação ao investimento público e surge apimentado pelo «esperem para ver as medidas que vamos propor». É verdade que o ex-ministro das Finanças Braga de Macedo declinou o convite para integrar o grupo por pensar que «eram poucos» e achar que a iniciativa não teria nada de «sensacional», mas não é menos verdade que o elã está criado e se respira um clima de (quase) reunião de congregados. Se não, vejamos: os ilustres ex-ministros, que uma vez terminadas as funções foram tratar da vidinha – entre o público e o privado é um ver se te avias em cargos muito bem remunerados – têm em comum o facto de todos terem prometido mais e melhor do que os seus antecessores, de se terem mais ou menos plagiado nos discursos do «é preciso sacrifícios e apertar o cinto» e «desta vez é que é», de lerem pela mesma cartilha do «défice público» e da «dívida externa», de abrirem portas e janelas no sector público para o privado se servir melhor, de terem sempre na manga ou no bolso um despacho anti-social pronto a cair sob a ministerial caneta. Venderam, desmantelaram, privatizaram, desbarataram a 'res pública' em nome da modernização, do progresso, da Europa, do desenvolvimento, da estabilidade. Numa palavra, deixaram no País a sua marca. E o resultado, qual foi? Ah, isso são outros contos, que agora os ex-ministros estão preocupados com a «situação dramática» do País e as «dificuldades metem-se pelos nossos olhos adentro».
Cavaco Silva está em sintonia com o grupo dos nove. Ainda há dias, na Ovibeja, disse que «nunca como hoje o país precisou tanto dos agricultores», exortando-os a contribuir «para a resolução dos problemas e dificuldades do sector» e apelando ao «consumo de produtos nacionais» de modo a «aumentar as exportações e a diminuir as importações». Depois de anos e anos a destruir a agricultura, as pescas, a indústria... só nos ocorre dizer que «tem pai que é cego». Em grupo de nove ou em bando de vinte, sejam ex ou actuais, não será dali que virá a luz para sair do buraco em que nos enfiaram.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33527&area=29
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
06/05/2010
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