O encerramento de 622 quilómetros de linha ferroviária que o Governo deverá fazer este ano está a gerar uma onda de protestos entre autarcas e a CP já rejeitou a responsabilidade de pagar os transportes alternativos aos passageiros.
foto José Carlos Pratas/Global Imagens |
No âmbito do documento preliminar do Plano Estratégico dos Transportes, a que a Lusa teve acesso, o Governo pretende encerrar 622,7 quilómetros de linha ferroviária a passageiros até ao final do ano. O Governo vai desactivar os serviços de passageiros nas linhas ferroviárias do Leste, do Vouga e do Oeste, entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz.
Será também desactivada a Linha do Alentejo, entre Beja e Funcheira, mantendo-se a ligação ferroviária de mercadorias às minas de Neves Corvo. A Linha de Cáceres também será encerrada, tal como as linhas do Tua, Tâmega, Corgo e Figueira da Foz, actualmente com circulação suspensa. De acordo com dados da CP, essas linhas servem aproximadamente 830 mil passageiros por ano.
Com estes encerramentos, a rede ferroviária portuguesa de passageiros vai ficar em 2012 com menos 40% das linhas que possuía no auge da sua actividade, em 1944.
Os presidentes das câmaras de Leiria, Nazaré e Figueira da Foz manifestaram-se contra a supressão do serviço de passageiros na Linha do Oeste entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz.
Juntaram-se aos protestos os deputados do PSD eleitos por Leiria e a Comissão de Defesa da Linha do Oeste e a Comissão de Defesa da Linha do Tâmega.
O presidente da câmara da Mealhada, Carlos Cabral (PS), criticou o encerramento do ramal da Figueira da Foz, enquanto o autarca de Amarante, Armindo Abreu (PS), disse sentir-se "desconsiderado e frustrado" no processo que conduziu ao encerramento da Linha do Tâmega e o de Mirandela, José Silvano, disse que o Governo apenas confirmou "o que já se sabia" quanto à Linha do Tua.
Um movimento cívico e os autarcas de Castro Verde e Ourique repudiaram a desactivação da linha entre Beja e Funcheira, enquanto o presidente da Câmara de Santa Marta de Penaguião ficou "muito triste" com a "machadada final" que o Governo deu ao desactivar a Linha do Corgo.
Posição diferente tem o autarca de Albergaria-a-Velha, João Agostinho (PSD), para quem o encerramento da Linha do Vouga não vai afectar as populações do seu concelho, que já não a utilizam por os horários serem desajustados e haver boas acessibilidades rodoviárias.
Contudo, o presidente da câmara de Águeda, Gil Nadais (PS), considera que o encerramento da Linha do Vouga vai ser "uma situação extremamente gravosa" para o concelho, afastado que está dos principais eixos rodoviários.
Os autarcas e empresários da zona de Portalegre estão contra a supressão dos comboios de passageiros na Linha do Leste e prometem lutar contra a decisão.
O presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro, Nelson Oliveira, admite que partes da rede ferroviária está "desadequada" à realidade, mas critica os encerramentos previstos para as imediações de Aveiro, Espinho e Leiria, "zonas com uma densidade populacional extraordinária".
Crítico dos encerramentos previstos é também o especialista em comboios Manuel Tão, afirmando que são "uma estupidez completa" e reveladores de "uma tremenda falta de estratégia para o futuro".
Já o empresário Henrique Neto, considera que o Governo está, "mais uma vez, a enganar os portugueses" ao dizer que abandonou o projecto da alta velocidade: "Prometeram que o congelariam por falta de verbas e agora vão construir uma linha que tem todas as características do TGV e chamam-lhe de mercadorias".
Segundo o documento do Governo, será assegurado o transporte rodoviário alternativo nesses locais.
Contudo, a CP já rejeitou a responsabilidade de pagar os transportes alternativos onde não existam ferrovias, salientando que os custos devem ser suportados pelos operadores rodoviários locais.
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