João Paulo Guerra
Todos os dias os jornais anunciam magnânimas excepções ao regime ferrabrás do Governo contra a generalidade dos portugueses, os que pagam a crise.
Assim, enquanto congela promoções na administração pública, o poder vai abrindo mão de excepções para algumas castas de afilhados da situação. E não há dia que não saia a público a promoção de altos e intermédios funcionários que assim vão escapar, pela mão esquerda do Governo, ao que a mão direita tira à generalidade dos trabalhadores do Estado. "Pagam todos", apregoa o poder. Todos, menos os tais. Dizem os jornais que as promoções no Estado dispararam 15% após o anúncio do congelamento das carreiras. E assim, o próprio Estado contorna e sabota a sua norma de não promover nem aumentar ninguém na Função Pública, promovendo, e desse modo aumentando, alguns eleitos.
Mesmo quando decide dar um arzinho filantrópico, o poder político não esconde as suas preocupações e opções de fundo. E é assim, por exemplo, que o Estado anuncia que está a ajudar mais de 2.300 famílias a pagar empréstimos para habitação... aos bancos. Ou seja, esta é simplesmente uma outra vertente da linha que vai pôr os contribuintes a pagar o buraco deixado pela gestão anterior do BPN e, de um modo geral, a ajudar a banca.
"Pagam todos", insiste o poder político. Mas enquanto o comum dos cidadãos já começou - dando ou não dando por isso - a pagar mais impostos e preços mais elevados no consumo, a banca ainda não começou a pagar a respectiva contribuição extraordinária para acalmar a crise. E porquê? Porque o poder político ainda não teve vagar para elaborar, aprovar e pôr em vigor a respectiva portaria.
Sim, porque em Portugal qualquer portaria faz política de facto. Basta que não saia.
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