Depois de dois mandatos de desgovernação social-democrata, com o país mergulhado numa crise que roçou a bancarrota, os húngaros infligiram uma pesada derrota ao partido governante, deixando-se arrastar à direita pelo discurso populista dos democratas-cristãos.
A ampla vitória da Aliança dos Jovens Democratas-Partido Democrata Cristão (FIDESZ), com 52,77 por cento, na primeira volta das legislativas realizadas no domingo, 11, na Hungria, não constituiu uma surpresa.
A julgar pelas sondagens, o FIDESZ, liderado por Viktor Orbán, terá mesmo ficado aquém das expectativas dos que lhe auguravam uma maioria directa de dois terços do parlamento.
Este resultado, a direita pode agradecê-lo às duas décadas de degradação das condições de vida, de marasmo económico e descrédito dos principais partidos que têm governando o país desde a derrota do socialismo.
Para estes, o veredicto do eleitorado foi implacável. Os socialistas (MSZP), em tempos liderado pelo desacreditado Ferenc Gyurcsany, obtiveram o seu pior resultado de sempre com 19,29 por cento (43,21% em 2006).
As outras duas formações que dirigiram a transição para o capitalismo, os conservadores do MDF (Fórum Democrático Húngaro) que ganharam as eleições em 1990, e os liberais do SZDSZ (Aliança de Democratas Livres), aliados dos «socialistas», foram simplesmente irradiadas do parlamento, não alcançando o patamar mínimo de cinco por cento.
Neste quadro, não foi difícil aos cristãos-democratas (FIDESZ) vencer em 174 dos 176 distritos eleitorais (uninominais), tendo obtido na primeira volta a maioria absoluta em 119.
Assim, estando em disputa na segunda volta apenas 57 círculos uninominais, tudo leva a crer que o FIDESZ poderá voltar a vencer pelo menos em 55 onde já é a força mais votada.
O objectivo dos dois terços dos deputados poderá estar deste modo ao alcance do FIDESZ, que além do mais venceu em todos os 20 círculos «provinciais», ficando abaixo dos 50 por cento em apenas quatro deles.
Note-se que, segundo o sistema eleitoral húngaro, nestes círculos os mandatos são atribuídos em função da percentagem, enquanto nos uninominais, só o partido que obtiver mais de 50 por cento dos votos elege o deputado. No final da segunda volta serão ainda atribuídos mandatos pelo círculo nacional.
Os novos protagonistas
Mas os lugares vacantes deixados pelos socialistas e liberais foram igualmente ocupados por novas formações surgidas recentemente. A mais votada delas foi a extrema-direita Jobbik (Movimento por uma Hungria Melhor). Criado em 2003, era até agora um pequeno partido racista e xenófobo sem representação parlamentar. Porém, as suas receitas, tão simples quanto demagógicas e falsas, encontraram terreno propício particularmente entre a juventude sem perspectivas e nas massas de trabalhadores desorientadas e empobrecidas, sobretudo da região Leste do país, a mais atingida pelo desemprego e pela pobreza, e aquela que tem a maior população de ciganos, ou seja, todos os ingredientes necessários à proliferação do discurso da extrema-direita.
Apesar de tudo, o Jobbik ficou aquém do seu principal objectivo de se tornar a segunda força política do país. Ainda assim, obteve uns expressivos 16,7 por cento que o colocam em terceiro lugar, abaixo dos «socialistas».
O outro estreante no parlamento é o LMP (Outra Política é Possível), um partido recém-criado que, em apenas alguns meses, se afirmou como a quarta força do país, recolhendo 7,43 por cento dos votos e atingindo os 12,76 na região da capital, Budapeste.
Neste caso, trata-se de um partido que se apresenta como progressista, utilizando um discurso ecologista, mostrando-se acima das ideologias e dirigindo-se a todos os grupos sociais, mantendo um certo ar de esquerda. Acusado pelos ultra-liberais de serem comunistas, há também quem tenha lançado a suspeita de que o LPD beneficia de financiamentos norte-americanos.
Entre as seis formações que não conseguiram eleger deputados está o Partido Comunista Operário Húngaro, arredado do parlamento desde a restauração do capitalismo no país.
Principal alvo das campanhas anticomunistas, sem os apoios, a organização e os meios financeiros dos restantes partidos, o PCOH apenas conseguiu apresentar listas em quatro círculos provinciais (de um total de 20), em consequência de um sistema que exige a recolha de assinaturas para poder apresentar candidatos.
Por isso o resultado registado pelos comunistas húngaros foi residual (0,11%), o que está muito longe de reflectir o seu real apoio eleitoral, embora constitua o seu pior resultado dos últimos anos.
Em comparação com outros países, a Hungria continua a apresentar um elevado nível de participação, que atingiu os 64,55 por cento. Dentro de duas semanas terá lugar a segunda volta do escrutínio.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33208&area=8
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário