Thalif Deen
O devastador poder de fogo de Israel nas duas semanas em que vem bombardeando o território palestino de Gaza seria inimaginável sem a presença de armas norte-americanas de tecnologia avançada.
As forças armadas israelenses usam aviões de combate F-16, helicópteros Apache, mísseis táticos e uma ampla gama de munições. Grande parte desse equipamento foi fornecida pelos Estados Unidos, e em boa medida a título de doação direta. Nos oito anos do governo de George W. Bush Washington entregou a Israel mais deUS$ 21 bilhões de dólares em assistência de segurança, incluídos US$ 19 bilhões sem nenhum compromisso de pagamento.
“A intervenção israelense na Faixa de Gaza se nutriu em grande parte por armas entregues pelos Estados Unidos, pagas pelos contribuintes norte-americanos”, diz um informe publicado na semana passada pela Iniciativa sobre Armas e Segurança, da organização New America Foundation, com sede em Nova York. “Faltou ao governo Bush vontade de lançar mão de sua considerável influência, como principal apoio político e militar de Israel, para dissuadir Telavive de sua conduta habitual: reivindicar o direito à defesa própria enquanto aplica castigos coletivos, viola direitos humanos e realiza ataques maciços e desproporcionai que ferem e matam civis”, disse à IPS Frida Berrigan, da New America Foundation.
Além da ajuda militar, os Estados Unidos assinaram contratos de venda de armas a Israel por mais de IS$ 22 bilhões apenas no ano passado, incluindo 75 aviões-caça F-35, nove transportes militares C-130J-30 e quatro navios de combate. “Por isso, na maioria dos ataques das forças israelenses contra Gaza e Cisjordânia se usa equipamento militar fabricado nos Estados Unidos, ou em Israel sob licença norte-americana”, explicou a New America Foundation. As duas semanas de bombardeio e incursão terrestre contínuas causaram até agora mais de 700 mortes de palestinos, entre eles mais de 300 civis. Do lado israelense morreram sete soldados e quatro civis, em sua maioria vítimas de “fogo amigo” e, em seguida, vitimas de ataques com foguetes lançados pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamás), que controla a Faixa de Gaza desde junho de 2007.
O estreito vínculo militar entre Estados Unidos e Israel e a freqüência dos ataques israelenses sugere que as forças armadas do Estado judeu teem a função de testar as armas de fabricação norte-americana mais modernas, disse à IPS o especialista Mouin Rabbani, da publicação especializada Middle East Report, editada em Washington. Tal padrão beneficia tanto Israel quanto os Estados Unidos, assegurou. Depois de testadas, “essas armas são vendas a preços muito inflacionados a países árabes que, efetivamente, subsidiam a indústria bélica norte-americana e as doações que Washington faz a Israel”, acrescentou.
Rabbani recordou Israel substituiu na década de 70 o hoje dissolvido Vietnã do Sul como primeiro receptor de assistência militar norte-americana, e que se mantém nesse posto privilegiado desde então. Com muitas poucas exceções, afirmou, Rabbani, Israel conseguiu obter ou comprar armas novas ou de avançada tecnologia que os Estados Unidos não vendem (e menos ainda doam) a países alheios à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Além disso, prosseguiu o especialista, Israel participa de vários programas de desenvolvimento de armas dos Estados Unidos, por isso se beneficia de uma enorme transferência de tecnologia militar. “Israel também tem acesso a vários programas de inteligência e informação dos Estados Unidos”, acrescentou.
O uso de armas norte-americanas contra Gaza pode constituir uma violação da Lei de Controle de Exportação de Armas (AECA), alertou na semana passada o deputado do Partido Democrata (oposição) Dennis Kucinich à secretária de Estado, Condoleezza Rice. A AECA estabelece as condições nas quais os países compradores podem usar as armas norte-americanas, isto é, em caso de riscos para a “segurança interna” ou “legitima defesa própria”. Em sua carta, Kucinich recorda que as forças israelenses mataram 40 palestinos refugiados em uma instalação da Organização das Nações Unidas. “Israel não está à margem do direito internacional e deve ser cobrada sua responsabilidade”, acrescentou.
Com o atual panorama em Gaza e no sul de Israel, o, presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, “entrará em uma cama de areia movediça quente no dia 20 deste mês”, afirmou Berrigan. Os palestinos estão em seu direito de insistir que os Estados Unidos compartilhem com Israel a responsabilidade por seus desmandos, segundo Rabbani. O pior – acrescentou – é, a “impunidade” com que essas armas são usadas. “Não vejo nenhum sinal e que as coisas mudarão após a posse de Obama” na presidente norte-americana, lamentou.
O presidente eleito tentou justificar seu silêncio pelo decoro em na sua qualidade de estadista, “afirmando que não tem outra opção porque ainda não é o presidente”, afirmou. Mas, “devido aos constantes pronunciamentos sobre a crise financeira fé fez desde sua eleição em 4 de novembro, me parece bastante claro que isso somente se aplica à política externa”, disse Rabbani. (IPS/Envolverde
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15/01/2009
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