Fernando Sequeira
Como é do conhecimento geral, está prevista a realização ou a continuação de um conjunto de empreendimentos públicos e privados de grande porte, de que se destacam o comboio de alta velocidade – incluindo neste projecto e organicamente a Terceira Travessia do Tejo (TTT) –, o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), o Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), bem como importantes expansões dos metropolitanos de Lisboa e do Porto, e obras nas vias convencionais de caminhos-de-ferro e aquisição de novo material de circulante pela CP.
Trata-se pois, de um conjunto de investimentos claramente estratégicos, com particular incidência nas áreas dos transportes e da energia, investimentos de que o País inequivocamente necessita, e que só podem ser criticados por muito atrasados no seu lançamento.
São investimentos que no seu conjunto atingem o muito significativo valor de cerca de 19 mil milhões de euros.
Exceptuando o troço do comboio de alta velocidade entre Caia e o Poceirão e o PNBEPH, que está a ser desenvolvido no quadro de concessões atribuídas, na sequência de concursos públicos, a diversas entidades privadas, o Governo PS, com o argumento dos problemas resultantes dos níveis da dívida externa e do défice público, e em evidente concertação estratégica com o PSD, não lhe bastando já o vasto conjunto de malfeitorias contra o País constantes do PEC, inventa agora uma nova versão do mesmo, no quadro do qual pára um vasto conjunto de investimentos: NAL, TTT, metropolitanos de Lisboa e do Porto, CP, REFER entre outros, correspondendo a um valor de empreitadas de cerca de 14,5 mil milhões de euros. Porém se incluirmos a totalidade dos projectos previstos, estes cortes atingem quase 18 mil milhões de euros.
‑Em vez de aumentar as receitas do Estado através da taxação daqueles que pouco ou nada pagam ao Estado, como as SGPS, os que têm as suas fortunas em off-shores, os que possuem fortunas em bens mobiliários, os bancos, a economia paralela, etc., etc., e já não contente por baixar dramaticamente os rendimentos dos trabalhadores, reformados e desempregados, o Governo PS segue por esta via, um caminho suicidário, de uma ainda maior erosão da economia nacional.
Trata-se assim, de mais um crime contra a economia e o desenvolvimento nacionais, crime contra os trabalhadores e o povo português, crime ao serviço dos ditames do grande capital internacional, das grandes potências da EU, do poder asfixiante do grande poder financeiro internacional.
Trata-se porém de um duplo crime.
Primeiro crime, pela suspensão de infraestruturas fundamentais ao ulterior desenvolvimento do País, à sua competitividade interna e externa e à qualidade de vida dos portugueses, como já atrás observámos.
Segundo crime, porquanto retira enormes encomendas e trabalho a importantes sectores da economia nacional, tais como o sector de projectos (de obras públicas, metalo e electromecânica, etc.), a indústria extractiva (sector das rochas industriais, designadamente), a indústria transformadora (particularmente cimentos, siderurgia, metalo e electromecânicas ligeiras, médias e pesadas, electrónica de comunicações, etc.) e obras públicas.
Acresce o facto de que, de acordo com diversos especialistas, a longo prazo, o investimento público agregado em infraestruturas de transporte apresentar relevantes efeitos positivos sobre o produto, o emprego, o investimento privado e as receitas fiscais. Estimam tais especialistas que um investimento público de um euro, conduz ao aumento do produto, a longo prazo, em cerca de 9,5 euros. Por outro lado, as receitas fiscais adicionais excedem o valor investido em cerca de 3,3 vezes.
Tudo isto num quadro de uma profunda depressão económica, situação em que o País precisa de produzir e trabalhar como do pão para a boca.
Política suicidária
‑Trata-se de um crime que, entre outras facetas, é o resultado de levar à prática a tese do neoliberalismo nacional: tudo pela exportação, nada pelo mercado interno.
Independentemente do rosário de grandes e pequenos outros crimes, que ao longo de décadas foram destruindo saberes, saberes-fazeres e capacidades instaladas em áreas estratégicas da produção industrial mas não só, os grandes projectos, se patrioticamente geridos, poderiam e ainda poderão criar condições para a dinamização, relançamento e modernização de muitas actividades industriais e, mesmo, se houver vontade política para tanto, do ressuscitar de um conjunto de actividades – críticas já hoje e ainda mais no futuro –, como a produção de material ferroviário (designadamente elementos metálicos para vias, material circulante diverso, equipamentos de telecomunicações dedicadas), de equipamentos mecânicos e electromecânicos para os empreendimentos hidroeléctricos, componentes metálicos, eléctricos e electrónicos e outros para a TTT e o NAL.
A questão da produção nacional e os grandes empreendimentos, deve ainda ser analisada na perspectiva do emprego em geral, mas também do emprego especializado, nomeadamente do emprego qualificado e altamente qualificado – entre outros de diplomados de nível superior ligados a áreas científicas e técnicas – neste momento sem perspectivas.
É pois, por estas e outras razões, por estes e outros crimes, que se torna inadiável uma política de ruptura.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33704&area=19
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
20/05/2010
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