No sector social, onde se paga segundo o rendimento familiar, há centenas de crianças a aguardar vaga.
A crise está a aumentar as listas de espera nas creches e jardins- -de-infância das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). Isto porque nestes estabelecimentos do sector social as famílias pagam a mensalidade consoante o seu rendimento. As próprias instituições admitem que neste momento já não conseguem dar resposta à procura. E lembram que o problema da falta de equipamentos para crianças é antigo, podendo agravar-se em alturas mais complicadas.
Há casos em que a lista de espera já ultrapassa a centena de crianças, como acontece na APIA, escola da Ajuda, em Lisboa. "Temos 104 crianças em listas de espera. Nós só temos capacidade para 32 aqui e desde Março que as inscrições estão encerradas", explicou ao DN a coordenadora, Isabel Martins. Neste caso, a explicação para o aumento da procura é não só o preço como a falta de oferta na zona, mas "a nível nacional a oferta é baixa", salientou a responsável.
Também em Lisboa, na creche e Jardim de Infância Júlia Moreira, já há mais de 50 pedidos para apenas dez vagas. "A procura tem aumentado. Nós queremos dar resposta, mas não conseguimos", disse ao DN a educadora de infância Ana Teresa Cardoso, lembrando que os 85 lugares do estabelecimento não chegam para a procura.
Nesta instituição já limitaram as inscrições a crianças que residam na zona de São João, para evitar aumentar ainda mais a espera.
No Porto, a situação não é mais animadora. O Centro Infantil Abrigo dos Pequeninos já tem "meia centena" de crianças à espera, assegurou ao DN fonte da instituição. As vagas, essas, são só dez.
O mesmo se verifica noutras zonas do País. Em Braga, numa das creches do sector social há também cem crianças na lista, segundo adiantaram os responsáveis ao DN. E em Aveiro e Coimbra há estabelecimentos em que o número de menores à espera de um lugar ronda os cinquenta nos dois últimos.
As escolas contactadas pelo DN referem que as regras das instituições dão preferência a crianças de baixos rendimentos, em risco e também a famílias que inscrevem mais do que um menor. Os filhos dos funcionários também têm prioridade.
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, conhece alguns casos em que se tem verificado este aumento da procura. E garante que se a situação se agravar as misericórdias não deixarão de actuar. "Estamos atentos. Se a alternativa for abrir mais salas, podemos vir a fazê-lo", disse ao DN.
Contudo, o problema da falta de vagas nas creches e jardins-de- -infância é diferente em várias zonas do País, explicou: "No interior, há sítios com vagas, mas nas zonas urbanas é mais complicado."
A gestão da lista de espera é feita por cada misericórdia, explica Manuel de Lemos. "Queremos ajudar todos e há prioridade aos mais desfavorecidos. Mas temos de assegurar o equilíbrio financeiro das misericórdias." E é a elas que compete praticar a solidariedade, ou seja, cobrar uma mensalidade consoante o rendimento de cada família e assegurar que a comparticipação é feita de acordo com o definido na lei (caixa).
Para calcular o escalão da mensalidade, os técnicos analisam os rendimentos da família, retiram- -lhe as despesas com habitação, medicação e transportes e calculam um valor per capita. Contudo, há pessoas que não pagam nada, devido às suas carências.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1577816
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