Quase dois mil agentes da PSP desfilaram em Lisboa, mas sobraram muitas bandeiras.
Não estava na lista das palavras de ordem, previamente distribuída pela Associação Sindical de Profissionais de Polícias (ASPP), que promoveu a manifestação, mas, a meio da Avenida da Liberdade, os polícias decidiram improvisar. Enquanto dos altifalantes dos carros da organização saia um "Sócrates toma atenção! Os polícias têm razão!", dos lábios dos manifestantes soava um ainda mais potente "Sócrates, aldrabão! Os polícias têm razão!".
Daí, a vários "mentiroso, mentiroso" ou repetidos "está na hora, está na hora, Sócrates vai--te embora", que podiam ser entoados em qualquer manifestação de funcionários públicos, foi um passo rápido. Por minutos parecia uma daquelas novelas mal dobradas em que o som não coincide com o movimentos dos lábios. Dos altifalantes saíam umas palavras, dos manifestantes outras.
Mas este foi o único ponto de 'rebeldia' do protesto dos polícias. Paulo Rodrigues, o presidente da ASPP já tinha garantido ao DN que não iriam "permitir nenhum comportamento que pusesse por em causa a imagem da PSP", como o que aconteceu há cerca de um ano quando atiraram os bonés de serviço ao chão, junto à residência oficial do primeiro-ministro.
Não eram muitos, cerca de dois mil, mas vieram de vários pontos do País. Porto, Espinho, Bragança, Guarda, Vila Real, Faro, Portalegre foram algumas das origens presentes confirmadas in loco pelo DN. Era notório algum desânimo pela pouca afluência. "Parece que há 20 mil polícias que estão contentes", desabafava um agente de Lisboa, com gel no cabelo, t-shirt preta colada ao tronco e os olhos escondidos atrás de uns Ray-Ban espelhados, referindo-se ao restante do efectivo, além dos dois mil presentes.
Eram vários os motivos para se darem ao trabalho de descer a Avenida: o novo estatuto, que, para os sindicalistas veio criar assimetrias; a diminuição da idade de reforma, alargamento serviços de saúde aos conjugues, a criação de uma terceira categoria de agentes que permita uma "mais justa" progressão na carreira.
Mas, de todas as razões invocadas pelo sindicato para esta manifestação havia uma que foi sempre enunciada pelos vários interlocutores ouvidos pelo DN. O facto de para os oficiais ter criada uma graduação que lhes permite ganhar acima do seu posto, quando estão a exercer funções acima da sua categoria, enquanto para agentes e chefes tal não aconteceu. E os sindicalistas garantem que "há inúmeros casos". "Para os senhores oficiais há dinheiro, mas para nós, que andamos nas ruas a dar o peito às balas todos os dias, estamos anos à espera das promoções", exclama um chefe, que veio de uma esquadra da Guarda.
O desagrado com esta "injustiça" foi patente nos decibéis alcançados com os assobios, na altura em que, no seu discurso, Paulo Rodrigues afirmava: "A polícia não é só feita por oficiais superiores..."
No fim, depois de ter ido entregar no Ministério da Administração Interna uma moção com as reivindicações, Paulo Rodrigues confessava-se "satisfeito" e "motivado" para "continuar a lutar".
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1580403&seccao=Sul
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