Francisco Mota
Estimado(a) cliente… Assim começa a carta que a Caixa Geral de Depósitos dirigiu a alguns dos seus clientes. E continua: «decorrente da previsível alteração, em 31 de Dezembro de 2011, do regime legal que regula a Zona Franca da Madeira», a CGD vai fechar a sua tasca ali. Mas não se preocupem os que tem uns tostões na dita Zona Franca e se aproveitam da ausência de impostos, apesar da Madeira ainda continuar a ser território nacional. A CGD, sempre atenta aos seus clientes, informa na mesma carta que as suas contas «serão transferidas para a sucursal Cayman» (Caimão, em português), «mantendo as condições contratuais actualmente em vigor, quanto à titularidade, movimentação, taxa de remuneração, cálculo e pagamento de juros, isenção de tributação sobre os juros», etc, etc. Se não quiser, por favor diga que transferimos o saldo para uma conta normal em Portugal, que é como quem diz com os juros sujeitos a tributação em sede de IRS/IRC.
Ora esta é a prova de que a banca pública trabalha bem; prevendo legislação ainda não conhecida pelos outros mortais, defende o dinheiro dos portugueses que têm depósitos em paraísos fiscais (que evidentemente é a população quase toda) e nos diz que se a Madeira não presta, vamos todos para as Ilhas Caimão, que tem umas praias lindas e uns cocktails incríveis. Ninguém lá vai porque os bancos tratam de tudo, mas se for vai encontrar uma placa numa casa ou escritório onde estarão mais uns milhares de bancos e grandes companhias do mundo. Não peça o extracto. Não seja ridículo, porque não tem nada. Isso pede-se em Lisboa e, mais fácil ainda, receberá uma carta todos os meses com o saldozinho.
Isto é a CGD, mas não nos enganemos, todos os bancos privados estão a fazer exatamente o mesmo. Talvez não seja para as Caimão, mas será para outra ilhazinha onde não se fazem perguntas tontas e inconvenientes. A banca gosta do silêncio e das boas maneiras para os seus negociozinhos. Portanto nada de peixeiradas.
Se algum leitor não tiver recebido a carta que citamos, pode dirigir-se ao sr. Armando Santos ou à sra. Paula Pedro, ambos Directores Centrais da CGD.
Só para terminar uma perguntazinha inocente: como é que isto encaixa na política de austeridade, de aumento de receitas e redução de gastos do nosso emérito Governo chefiado, para efeitos de imagem, pelo sr. Coelho? Parece evidente por este exemplo que quem manda não é ele, mas os tais senhores discretos e atapetados da banca.
http://www.avante.pt/pt/1983/argumentos/117536/
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