À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

28/04/2011

Pai da flexissegurança avisa: "Troika" vai destruir garantias dos trabalhadores

É um recado pessimista aquele que é deixado aos trabalhadores portugueses por Poul Rasmussen: sob a batuta da austeridade, a negociação colectiva pode cair por terra. Numa entrevista a Rui Boavida, da Agência Lusa, o antigo primeiro-ministro dinamarquês e criador da flexissegurança não poupa críticas à “maioria conservadora” que ocupa os lugares de decisão na Europa e nas instituições comunitárias.

Com o dedo apontado à equipa que está em Portugal a negociar o resgate financeiro, o atual presidente do Partido Socialista Europeu acusa a Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional (FMI) de ter "esquecido o que é a flexissegurança", preparando-se para tentar destruir os mecanismos sociais de proteção dos trabalhadores portugueses.

“Por isso, penso que [a "troika"] tem de dizer: vamos para boas negociações com Portugal, vamos olhar para a economia, mas vamos perceber que os acordos coletivos vieram para ficar", sublinhou o líder socialista. O pacote das medidas da ‘troika’ deverá ser apresentado até ao início da próxima semana.

Equipa portuguesa tem de ser dura
É portanto um Rasmussen muito preocupado com a mais do que certa obliteração dos direitos dos trabalhadores que aconselhou os parceiros portugueses que estão no Terreiro do Paço sentados à mesa com a equipa internacional a serem duros na negociação das condições que vão acompanhar o resgate financeiro: "Quando se ouve a Comissão Europeia a falar convosco, com Portugal, esse não é o meu caminho. Vocês precisam de negociar e de ser duros nas novas negociações”.

“Há que perceber que não enfrentamos uma ditadura do FMI e da UE, são é negociações duras sobre o resgate e sobre as condições para receber a ajuda e auxílio", sublinhou o pai da flexissegurança, para deixar uma palavra em matéria de “investimento”.

Fazendo notar que este foi um capítulo ignorado nas conclusões da Cimeira Europeia de Chefes de Estado e de Governo de março passado, Poul Rasmussen sustenta que não são os cortes mas maiores níveis de investimento que poderão voltar a colocar Portugal numa rota de crescimento.

"Se olharmos para os últimos acordos da cimeira, a palavra não é referida. Para voltar a fazer Portugal crescer, o importante é o investimento e a educação, para aumentar os níveis de competência que permitam a criação e a aceitação de novos empregos. Quanto mais se fizer em termos de crescimento e investimento, mais se pode fazer no setor da educação e das qualificações: o nível de vida será melhor", apontou.

Nesta linha, que Rasmussen diz ser aquela preconizada pelo Partido Socialista Europeu, "Portugal, Dinamarca, a Europa, não deveriam competir com base nos baixos salários, deveriam competir com base na melhoria das nossas qualificações. Essa é a grande ideia".

"Deveríamos sair da crise através do investimento, em vez de através de cortes", resumiu.

Conservadores "tramaram" Portugal
 Numa análise das dificuldades com que se defronta Portugal, Poul Rasmussen encontrou culpas na especulação dos mercados financeiros: "Portugal foi atacado por ataques especulativos dos mercados financeiros. Na realidade, há aqui um dilema: por um lado temos uma verdadeira democracia em Portugal, tal como na Irlanda, tal como na Grécia, tal como em Espanha, uma verdadeira democracia, com governos eleitos, por outro, há um pequeno número de especuladores a atacar a economia portuguesa e um pequeno número de agências de 'rating' que avaliam as nossas democracias sem nós termos influência. Não é justo".

Mas Rasmussen não poupa os conservadores que ocupam as cadeias de comando europeias, que acusa de apontarem um único princípio às economias dos 27: austeridade.

"A Europa está nas mãos erradas. Temos uma maioria conservadora no Parlamento Europeu, no Conselho da Europa, na Comissão Europeia, e esta combinação está a pressionar Portugal de forma muito, muito pesada. E eles só pensam numa coisa: austeridade, austeridade, austeridade. Vocês estão a tentar, como o primeiro-ministro José Sócrates tem feito, fazê-lo de forma que seja justa e que salvaguarde o futuro", acusou, considerando que "Portugal foi prejudicado pela maioria conservadora na Europa. Penso que, para ser justo com José Sócrates e com o seu Governo, Sócrates fez o que tinha a fazer em condições difíceis, mas que o fez da forma mais justa".

Já hoje, involuntariamente ou não, o primeiro-ministro português afirmou que os portugueses vão "ter saudades do PEC. Nós tínhamos uma solução para responder aos nossos problemas e atirámos fora essa solução, que tinha o apoio do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e dos restantes países europeus. Essa solução era melhor do que a que vamos ter. Quanto a isso não tenho a mínima dúvida".

Esclarecendo que o acordo para a ajuda externa vai ser divulgado "nas próximas semanas", Sócrates deixava no entanto garantias de que a sua equipa está a fazer tudo para que o acordo "tenha as menores consequências possíveis quer do ponto de vista social, quer económico".

http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Troika-vai-destruir-garantias-dos-trabalhadores.rtp&article=437079&visual=3&layout=10&tm=9

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails