Octávio Teixeira
Diz o Governo que "chegou a hora da verdade". Nada ocultar e dizer toda a verdade com o máximo de rigor e de transparência.
Exige-se, porém, que a "verdade" não integre a perspectiva de se realizarem milagres. E parece que há alguns implícitos nas projecções apresentadas pelo Governo. No próximo ano o decrescimento do produto vai ser substancialmente maior que em 2011. Acresce que o Governo prevê facilitar mais os despedimentos. Porém, projecta que o emprego total diminuirá menos que este ano (mesmo assim recuando o emprego total para valores de 1999). É obrigação do Governo explicar como consegue este milagre.
Outro milagre tem a ver com a dívida das Administrações Públicas. Segundo o Governo o stock da dívida será em Dezembro deste ano de 174 mil milhões (101,9% do PIB). Porém o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público divulgou que a dívida directa do Estado, e apenas ela, era no final de Setembro de 178 mil milhões. Não se vislumbram razões para que nos últimos três meses do ano o Governo consiga fazer desaparecer dívida num valor que será da ordem dos 10 mil milhões ou mais (há que ter em conta a dívida das autarquias, das regiões autónomas e outras, consolidadas na dívida pública).
Mesmo que até ao fim do ano se concretizasse todo o pacote de privatizações – o que o Governo assume não irá acontecer – se conseguiria explicar uma diferença deste montante, pois a arrecadação prevista é cerca de metade daquele valor.
Em prol da verdade e da transparência sempre exigíveis, o Governo tem o dever de explicar tudo isto. Ou legitimamente seremos levados a concluir que propositadamente deturpa a verdade com o objectivo de induzir a falsa ideia de que a sua política consegue fazer milagres.
Sem comentários:
Enviar um comentário