Carvalho da Silva sublinhou desemprego nos jovens. Cavaco Silva foi alvo da maior vaia da tarde
Empolgado por uma multidão de manifestantes que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa (para a organização, mais de 300 mil pessoas), Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, só no final do dia concretizou o que já estava expresso na resolução dos trabalhadores filiados naquela central sindical: a marcação de uma greve geral é apenas uma questão de tempo.
O aviso de que uma greve geral pode ser agendada nos próximos meses (muito provavelmente depois do Verão) tinha sido já feito por Ana Avoila, membro da comissão executiva da CGTP. No seu discurso, a sindicalista exortou os manifestantes para estarem "disponíveis para todas as formas de luta num curto período de tempo".
A resolução aprovada, ontem no comício que encerrou o desfile, que partiu às 16.00 do topo da Avenida da Liberdade até aos Restauradores, fala na adopção de "todas as formas de luta que a Constituição consagra". Mas, até chegar a este ponto, o líder da CGTP desafiou o Governo a revogar as medidas consagradas no PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento), as quais, na sua opinião, "são falsas soluções para a crise", porque apenas vão penalizar os trabalhadores e fomentar o desemprego.
E, neste capítulo, Carvalho da Silva fez questão de salientar o problema do desemprego nos mais jovens. "A juventude tem de estar sempre presente nas grandes transformações da sociedade", declarou, elencando a subida do IVA, o aumento do IRS e a descida do abono de família como medidas que penalizam os mais jovens.
Como contrapropostas às enunciadas pelo Governo, o líder da CGTP apontou como caminhos para superar a crise económica os "cortes nas parcerias público- -privadas e o combate à fraude e à evasão fiscal como medidas para sair da crise, o estímulo à economia interna e o combate à economia paralela e à corrupção".
Depois de apontar baterias ao Governo, as atenções de Carvalho da Silva viraram-se para o Palácio de Belém: "O Presidente da República assiste a tudo numa atitude de apoio implícito e, para compor a participação no cenário, vai fazendo discursos moralistas. Não é isto que precisamos. Precisamos de um Presidente que trate dos problemas com rigor e transparência", declarou. Os manifestantes responderam com uma monumental vaia ao Presidente da República.
Apesar da mobilização, o dia também ficou marcado pelas declarações do secretário-geral da UGT, João Proença, que considerou que o protesto levado a cabo pela CGTP colocava em causa a imagem de Portugal nos mercados internacionais. Carvalho da Silva classificou-as de ofensivas. Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, foi mais longe: "É a posição de um vencido, de um conformado. Mesmo no seio da UGT há muita gente indignada." O líder do PCP declarou ainda que a adesão à manifestação mostra a disponibilidade dos portugueses para lutar. Já Francisco Louçã, dirigente do Bloco de Esquerda que também aderiu ao protesto, disse que "quando há crise o Governo retira medidas como a do apoio a 187 mil desempregados".
Reagindo à manifestação da CGTP, Helena André, ministra do Trabalho e da Solidariedade Social e Segurança Social, declarou que "a contestação não vai a lugar nenhum". A ministra preferiu apelar à "concertação" e ao "diálogo".
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1581889
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