Didier Fassin (Tradução de Paulo Neves)
"Não é muito freqüente as ciências sociais – institucional e profissionalmente – reagirem a um fato social que toma uma forma de acontecimento. Temos em geral uma espécie de reticência a tratar da atualidade, que preferimos deixar aos jornalistas, reclamando para nós mesmos a distância e a duração: distância do olhar científico, duração da pesquisa etnográfica ou sociológica. Sob esse aspecto, a antropologia é exemplar: muito poucos de seus trabalhos tratam de acontecimentos, a descrição prevalece sobre a narração, o presente do intemporal e das regularidades é mais aceito que o passado simples do relato e das peripécias. E, mesmo que o tempo seja o objeto de nossas pesquisas, esse tempo é o da mudança social, ou seja, das mutações profundas e das transformações estruturais. Não o do acontecimento, que tendemos a ver apenas como a espuma de mudanças sociais mais essenciais à nossa análise. Mas com os fatos que se produziram no final do mês de outubro e começo de novembro de 2005, e pela importância que adquiriram para a sociedade francesa – e mesmo para o mundo, pois foram mostrados espetacularmente pelos meios de comunicação em todo o mundo –, há uma certa reabilitação do acontecimento, não como uma realidade acessória entregue ao tratamento jornalístico, mas como uma realidade essencial, na medida em que revela fenômenos dissimulados ou ocultos. Esses conflitos podem, seguramente, ser compreendidos como uma prova de verdade."
in Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 18, n. 2
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
03/10/2008
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