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29/07/2008

Trabalho imaterial, forças produtivas e transição nos Grundrisse de Karl Marx - Henrique Amorim

Introdução

A tese de que o capitalismo teria vencido o socialismo (em especial o da antiga URSS) no que se refere à organização da burocracia, à produtividade e à distribuição da renda na sociedade difundiu-se nas últimas três décadas e influenciando o campo marxista, afastando dele muitos autores.1 Surgiram, nesse contexto, análises da obra de Marx sobre os processos de trabalho e, especialmente, sobre o conceito de trabalho que questionavam a relevância do papel político das classes sociais na actualidade e no socialismo, como sociedade de transição. O conjunto dessas teorias difundiu-se dentro de um eixo orientado pelas novas formas de exploração do trabalho na indústria e pela expansão do sector de serviços. Ao mesmo tempo em que houve a necessidade de negar o marxismo, as teses de Marx são instrumentalizadas, acabando por orientar a dinâmica e a conservação das sociedades capitalistas. Na prática, uma das formas de descarte/revisão da teoria marxista foi defini-la como uma teoria do industrialismo. Se este último havia sido superado por novas e mais eficazes formas de produção, que faziam desenvolver a subjectividade do trabalhador e ainda mantinham a dominação social do capital, a teoria que dava sustentação ao “velho” embate entre classes sociais deveria ser considerada, no mínimo, uma teoria anacrónica ou ultrapassada. A análise de Marx sobre a história da luta de classes seria refém, dessa forma, da indústria capitalista e dentro desta do trabalho imediato, considerado como a forma central de constituição do valor. Nesse sentido, se o trabalho imediato deixa de ser a relação social fundamental na produção e reprodução social do capital, a indústria, estrito senso, também o deixaria. Ao se indicar a superação da indústria, indica-se a superação da análise de Marx do capitalismo.
A partir desse universo de revisão e rechaço ao marxismo, as teorias sobre a não centralidade do trabalho e depois sobre a imaterialidade do trabalho foram desenvolvidas. Em um primeiro momento, a negação do marxismo e do trabalho industrial, pensado em sentido generalizado, foi o objectivo central das teses sobre a não-centralidade do trabalho.

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