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30/10/2009

Lutas contra a violência policial se intensificam em todo Brasil

Marcio Zonta

“Nos últimos anos, os diversos grupos familiares, sempre capitaneados por mulheres, vêm buscando desenvolver uma atuação conjunta, com base na compreensão de que o problema não está concentrado em uma ou outra matança, mas em um processo político”. É o que observa a mestre em Antropologia Social e doutora em Sociologia, Barbara Musumeci Soares, que co-organizou no Rio de Janeiro o livro que traz relatos de 21 famílias, chamado “Auto de resistência. Relatos de familiares de vítimas de violência armada” (editora 7Letras).


Ela entende que uma nova forma de organização vem acontecendo nos últimos tempos pelas famílias do Rio de Janeiro, que perderam seus entes por conseqüência da violência policial, “a consolidação de um grupo abrangente, vem lentamente ganhando força. Não se trata apenas de mobilizações eventuais. Mas o mais importante é que essas mulheres vêm se qualificando de diversas formas (em cursos, conferências, encontros e seminários) e aprendendo, cada vez mais, a lidar com os organismos do Estado e com a mídia”.


Para Barbara esse processo de luta contra as injustiças que sofrem já dão frutos. “Com isso, estão encontrando canais de visibilidade, formulando estrategicamente suas demandas e ganhando espaço no cenário público”, conclui.


Mães de Maio

Em São Paulo, As Mães de Maio, mulheres que perderam seus filhos em maio de 2006, no revide da polícia aos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), culminando em 493 pessoas mortas, também vão à luta para provar a inocência de seus filhos.

Segundo relatório divulgado no primeiro semestre pelo Programa de Justiça da Conectas Direitos Humanos, o perfil das vítimas daquele maio de 2006 e das mortes praticadas pela polícia em geral no Brasil é de “homens jovens, com reduzida escolaridade, solteiros e sem antecedentes penais”.

A constatação leva a presidente da organização das Mães de Maio, Débora Maria da Silva, que também perdeu seu filho morto pela polícia no dia 15 de maio de 2006, a desabafar: “Eu não vou ficar no sofá chorando a morte do meu filho”. Ela diz que vem se envolvendo com movimentos sociais e buscando apoio à organização. “As Mães de Maio estão sofrendo, muitas com depressão, se tratando, embora abandonadas sem auxílio nenhum do Estado”, complementa.

Descrença

Na Bahia, os jovens são os protagonistas, por meio do Fórum Baiano da Juventude Negra, de campanhas nacionais. Conforme informa a assistente social, Carla Akotirene, que coordena as campanhas, “estamos provocando politicamente a implantação do PCRI (Programa de Combate ao Racismo Institucional) junto aos profissionais de segurança, visto que a vida do jovem vem sendo ceifada cotidianamente pela mão branca do Estado”.

A advogada do Programa de Justiça da Conectas Direitos Humanos, Marcela Fogaça Vieira, no entanto, pondera diante das dificuldades enfrentadas pelas famílias nessa luta diária e aponta as principais barreiras encontradas para se fazer justiça: “há descrença nessas instituições em razão do alto grau de impunidade, por acreditar que a denúncia não irá gerar uma responsabilização dos policiais envolvidos. Infelizmente, apenas em uma irrisória minoria dos casos, há algum tipo de punição. Outra dificuldade enfrentada é o acesso à justiça, principalmente em decorrência do quadro insuficiente da Defensoria Pública no Estado de São Paulo e em outras cidades”.

Brasil de Fato - 30.10.09

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