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29/04/2009

Remunerações desiguais: o efeito do território e das profissões

Portugal apresenta uma profunda desigualdade remuneratória entre Lisboa e o resto do território. O volume das remunerações tende a variar de acordo com a actividade profissional, mas mais nuns distritos do que noutros.

A remuneração média em Portugal dos trabalhadores por conta de outrem do sector privado era, em 2006, 789 euros. O gráfico 1 ilustra que o valor da remuneração auferida varia de acordo com o grande grupo profissional de pertença, observando-se a este nível acentuadas desigualdades, independentemente dos distritos analisados.
Todavia, refinando a análise, percebe-se que o volume das remunerações varia de forma significativa ao longo do território nacional. Lisboa é o distrito do país no qual o nível remuneratório dos diferentes GGP é mais elevado. A excepção a este facto verifica-se no grupo dos Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da Montagem (GGP8), mais bem remunerados em Setúbal do que nos restantes distritos. Entre os Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas (GGP6), Évora apresenta valores iguais aos de Lisboa (remuneração média de 562 euros).
Os valores mais baixos para este indicador provêm de distritos do norte de Portugal. Bragança é o que apresenta uma média de remunerações mais baixa (598 euros). É também nesse distrito que as remunerações auferidas por trabalhadores que pertencem ao GGP1, GGP2, GGP3, GGP5 e GGP9 são menos volumosas. Braga, por seu lado, apresenta os valores mais reduzidos para o GGP6, GGP7 e GGP8, o mesmo acontecendo com Vila Real relativamente ao grupo do Pessoal Administrativo e Similares (GGP4).

O gráfico 2 ilustra a grandeza relativa das remunerações médias nos distritos do país tendo como valor de referência a remuneração média no distrito de Lisboa. A remuneração média dos trabalhadores por conta de outrem do sector privado em Bragança correspondia a 57,9% da auferida em Lisboa. Em Viana do Castelo, Braga e Castelo Branco o valor deste indicador fica também abaixo de 60,0%. O valor relativo da remuneração média em Setúbal corresponde a cerca de 75,0% da verificada em Lisboa, assumindo-se como o distrito do país a apresentar uma menor diferença face à capital no que a este indicador diz respeito. Seguem-se-lhe o Porto e Aveiro.

Como se pode observar no gráfico 3, as desigualdades remuneratórias associadas à actividade profissional desempenhada assumem expressões diferenciadas ao longo do país. Se se comparar, em cada distrito, a diferença entre o GGP melhor remunerado e o pior remunerado concluí-se isso mesmo: em Lisboa essa diferença é de quase 400,00%, enquanto nos demais distritos do país nunca atinge os 300,00%. Faro é o distrito onde este hiato assume uma expressão mais reduzida: 150,6%.
Neste sentido, embora seja o distrito do país mais favorecido ao nível do volume das remunerações, Lisboa apresenta também as maiores desigualdades entre a remuneração média dos Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de empresa face ao grupo dos Trabalhadores Não Qualificados (ver nota metodológica).

Nota Metodológica: Os dados apresentados dizem respeito às remunerações base auferidas pelos trabalhadores por conta de outrem do sector privado, no ano de 2006 (mês de Outubro). A remuneração base é o “montante ilíquido (antes da dedução de quaisquer descontos), em dinheiro e/ou géneros, pago com carácter regular e garantido aos trabalhadores no mês de referência e correspondente ao período normal de trabalho. Inclui o montante pago por dias feriados, férias e faltas justificadas que não impliquem perda de remuneração.”
Relativamente aos dados tratados no gráfico 3, os GGP melhor e pior remunerados variam consoante o distrito.

Observatório das Desigualdades - 29.04.09

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