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19/10/2010

Apoio popular ao protesto é de 71 por cento França está "em pé de guerra" devido à sexta jornada de greves e manifestações

A polícia de choque tem estado hoje a recorrer a gás lacrimogéneo e a bastões nos seus confrontos com os manifestantes franceses, alguns deles estudantes do ensino secundário.

Numerosos sectores da economia estão a ser afectados, pela sexta vez em menos de dois meses, por greves e manifestações contra o aumento da idade de reforma preconizado pelo Presidente Nicolas Sarkozy para entrar em vigor dentro de oito anos. O país encontra-se em “pé de guerra”, segundo escreve a edição online do jornal “Libération”.

O tráfego aéreo encontra-se fortemente perturbado pela adesão dos controladores aéreos à greve geral, tendo sido anulados metade dos voos previstos para o aeroporto parisiense de Orly e 30 por cento dos voos para os demais aeroportos da França. Pelo menos oito voos de Lisboa e Porto para a capital francesa foram cancelados hoje, segundo informações disponíveis na página na Internet dos Aeroportos de Paris e citadas pela Lusa.

O braço-de-ferro entre os sindicatos e o Governo está a atravessar uma fase crucial, marcada pela falta de combustível em 2500 postos de abastecimento (20 por cento dos existentes) e pelo aumento de tensão nos liceus. A BBC já admitiu que ao fim do dia venham a ser 2600 as estações de serviço encerradas.

Um blog do jornal “Le Parisien” indicou que 379 liceus foram afectados pela contestação, enquanto o ministério da Educação dizia que 14 por cento das escolas primárias também tinham sido atingidas.

Esta sexta jornada nacional de mobilização prevê 277 manifestações em toda a França. Em Paris, o desfile com todos os líderes das oito centrais sindicais está marcado para as 13h30 locais (12h30 em Lisboa), com partida da Praça de Itália, em direcção aos Inválidos.

A 12 de Outubro, um número recorde de manifestantes saiu à rua contra o projecto de Sarkozy para que a reforma só possa ser possível a partir dos 62 anos, com o pagamento total dessa mesma reforma a ser aumentado dos 65 para os 67 anos. Cerca de 3,5 milhões de pessoas participaram, segundo os sindicatos, 1,2 milhões segundo a polícia.

Sarkozy promete medidas para que ordem pública seja garantida

Em Deauville, na Normandia, à margem de uma cimeira franco-russo-alemã, Sarkozy disse ontem à noite que a alteração do sistema das reformas “é essencial”, não tencionando transigir perante os protestos populares.

Depois, já hoje, terminada a cimeira, o chefe de Estado anunciou que vai tomar medidas, nomeadamente contra o bloqueio das refinarias, e pediu a “responsabilidade do conjunto dos actores”.

“Compreendo a inquietação. Numa democracia, cada um pode exprimir-se, mas deve fazê-lo sem violência e sem excessos. Efectuarei, ao regressar a Paris, uma reunião para desbloquear um certo número de situações, porque há pessoas que querem trabalhar e não devem ser privadas de combustível”, declarou Nicolas Sarkozy à imprensa.

“Verificarei com as forças da ordem que a ordem pública seja garantida. É esse o meu dever”, sublinhou.

O abastecimento de combustível é particularmente difícil no Ocidente da França, como na região costeira da Normandia, precisamente onde o Presidente da República esteve reunido com o seu homólogo russo, Dmitri Medvedev, e com a chanceler alemã, Angela Merkel.

A Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro (SNCF) anunciou hoje de manhã que que estavam a circular 25 por cento dos comboios interprovinciais, 60 por cento dos comboios com saída ou destino de Paris, metade das composições de alta velocidade e todas as do Eurostar, com destino a Londres.

Os jornais não foram impressos ou distribuídos, devido à greve geral, permanecendo os quiosques fechados.

O novo regime foi aprovado pela Assembleia Nacional a 15 de Setembro e vai ser votado quinta-feira à noite pelo Senado, na melhor das hipóteses, depois de dois adiamentos, no meio do grande caos a que se está a assistir. O jornal "Libération" já admitiu mesmo que a votação final só se possa verificar durante o fim-de-semana.

Ontem, numa sondagem CSA, 71 por cento dos franceses manifestaram o seu apoio e simpatia à jornada de protestos que hoje iria decorrer; e durante a qual se têm estado a somar as críticas de esquerda às posições governamentais.
http://publico.pt/Mundo/franca-esta-em-pe-de-guerra-devido-a-sexta-jornada-de-greves-e-manifestacoes_1461680

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