Os distritos com mais casos de famílias a passar fome são os de Setúbal, Porto, Lisboa e Braga, onde os pedidos de alimentos aumentaram mais de 30 por cento nos últimos três meses.
"Apoiamos uma média de 200 famílias por mês e, nos últimos tempos, abrimos mais de uma centena de processos", disse ao CM Daniela Guimarães, da Cáritas do Porto, sublinhando que "está a tornar-se muito difícil arranjar alimentos suficientes para todos os pedidos que chegam".
Também José Carlos Dias, da Cáritas de Braga, nota que "são cada vez mais as pessoas que se dirigem à Cáritas a pedir roupa, comida e medicamentos".
"Os sinais que vemos no terreno são inversos aos da eventual recuperação económica de que ouvimos falar. Estamos a apoiar mais de 500 famílias e todos os dias deparamos com novos casos de grande necessidade", disse José Carlos Dias, acrescentando que, "para além dos alimentos, roupas e medicamentos, pedem-nos ajuda para pagar as rendas, a água e a luz e muitas vezes para fraldas e papas para os bebés".
Fonte da Cáritas Portuguesa disse ao CM que o levantamento das situações mais críticas deve estar concluído em Março de 2010.
"O PROBLEMA É O DESEMPREGO"
O bispo D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, diz que "com empresas a fechar todos os dias é impossível inverter a tendência dos últimos tempos, de aumento de dificuldades para as famílias portuguesas". Lembrando que, desde finais de 2007, os índices de pobreza se vêm agravando no nosso País, o prelado alerta para o facto de a crise estar ainda muito longe do fim. "O problema é o desemprego, que afecta muitas vezes os dois membros do casal e que, de um momento para o outro, ficam sem meios de fazer frente às despesas, da alimentação, da casa, dos filhos, etc." De resto, uma das grandes dificuldades prende-se com o pagamento das prestações das creches e jardins-de-infância das IPSS, que registam cada vez mais casos de atraso ou mesmo de retirada dos filhos das instituições. Ao que o CM apurou, são mais de dois mil os casos de atrasos nos pagamentos nas creches das IPSS em todo o País.
"TENHO DE PEDIR PARA DAR PÃO AOS MEUS FILHOS"
Sandra (nome fictício) tem 36 anos, é casada e tem três filhos, de 4, 7 e 10 anos. Já não trabalha há quatro anos e o marido perdeu o emprego há oito meses. Desde Março que, duas vezes por mês, bate à porta da Cáritas, no Porto, para pedir ajuda. "Tenho de pedir para dar pão aos meus filhos. Eu já não tenho subsídio de desemprego e o único dinheiro que entra em casa é o do subsídio do meu marido, cerca de 500 euros. Para cinco pessoas, não chega a nada", diz Sandra, lembrando que é pouca a esperança de que as coisas melhorem. "Ao almoço os meninos comem na escola, mas, ao fim do dia, quando chegam a casa, vêm com fome e eu, mesmo com muita vergonha, peço para lhes dar de comer", explica. E, todos os dias, ela e o marido procuram trabalho.
C.M. - 22.09.09
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